16.4.09

Vou-vos falar sobre a loucura emocional. Eu gosto de pensar que não a tenho porque sou livre, porque estou sempre desperto e consciente da razão porque razão faço as coisas. Mesmo quando estou inconsciente tenho a sensação que há uma verdade inevitável que sai dos meus actos. Também gosto de pensar que não caio na loucura emocional porque me esforço sempre por ver as coisas tão simples como elas são, e se num instante eu transformo qualquer pessoa que encontro num mito, nesse mesmo instante eu analiso-a com o olhar mais frio.
A loucura emocional nasceu quando o primeiro homem guardou a imagem da primeira mulher na memória. Depois alastrou-se com histórias, canções, poemas. Agora sofremos todos porque imaginámos coisas. Imaginámo-las e queremos que o nosso mundo seja assim. A loucura emocional sofre porque está só, pela teia de impossibilades de lar da alma que vai tecendo. A loucura emocional é o estado de quem quer sempre tudo, sem nunca deixar de amar aquilo de que abdica. Sendo assim eu seria o melhor exemplo de um louco emocional. Mas eu gosto de pensar que vejo as coisas claramente, gosto de pensar que por aceitar o meu sofrimento e as minhas perdas como naturais, não dou espaço para a criação de nenhum bolor na alma.
Há dias em que acordo e quase sinto pena da minha pequena pessoa por estar sozinha. Ponho-me ao volante e guio ate alcançar uma cara familiar, um sorriso quente, o conforto de uma expressão facial que já sei de antemão que vai acontecer em x momento. E esse meu gesto de pegar no carro e procurar um amigo ou um antigo amor é o reflexo dessa primeira memória que o primeiro homem guardou da primeira mulher. A verdade é que eu sou um louco emocional, sou o pior louco emocional. Já tive o lar na minha mão, mas rejeitei-o repetidamente para procurar um lar, (se a frase é confusa é porque os próprios actos também o são). E sei que toda a minha frustração é consequência de todas as minhas fugas. Mas eu acredito no fim como inevitavel, pelo menos tanto como quero acreditar que estou prestes a encontrar algo que não acaba. Já me disseram muitas vezes que o Alter Ego fala pouco, e que quando escreve, só escreve sobre si próprio. Eu acho que sim e acho que não. Não sei bem porque quis escrever sobre a loucura emocional. ninguém se tornará mais lúcido por isso, nem vou aliviar a vida pesada de ninguém, só fico, eu próprio, mais consciente deste indefinido eterno em que estou condenado a passar os meus dias, que me vai fazer ter sempre a esperança de encontrar a eterna tarde do sol quente, já a saber que ela é impossivel.

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