22.8.11

e quando o ser humano alcançou o alter-ego, o segundo ficou sem razão de ser. A coisa que sonhava tornou-se verdadeira e consumiu em chamas verdadeiras o sonho de ontem. Para quê? Afinal para quê, se eram tudo variações do mesmo andar?

Dizem que o Alter-Ego morreu num acidente de mota, outros dizem que foi de carro, na curva mais bonita da Avenida Marginal, mas o que todos sabem é que nunca mais voltou a aparecer. Deve ser uma coisa assim, a morte.
É um equilíbrio ténue
de repulsa e atracção
Sabes?
Chegou a altura
de agarrar o fogo
pelos tomates
Vai sempre haver
alguma coisa
a tentar atar-nos
a garganta, o sexo e as mãos
e ou fazemos
já o que queremos
ou então é casa
e passeios de domingo.

19.8.11

Digidiários
(página perdida)

Londres, Bookshop, 22:18.
Um tipo gigante, completamente bêbado e encharcado, e com uma bíblia gasta debaixo do braço entra na loja. Pousa a bíblia em cima do balcão e tenta falar comigo. Primeiro não percebo (o tipo é estrangeiro, mas o sotaque alcoólico ultrapassa qualquer indicio que eu possa identificar de outra nacionalidade), depois sim. Ele quer que eu lhe arranje a Bíblia. Digo-lhe que não sei fazer isso. Ele olha-me sério, rasga uma página do livro e diz que eu vou ter de arranjar aquilo. Eu tiro os óculos para a hipótese de dar porrada. O gajo diz que tem dinheiro e põe uma libra e tal em cima da mesa. Eu digo-lhe que não quero o dinheiro e que não sei como arranjar a Bíblia. Ele pede para eu a limpar, eu pego num bocado de papel higiénico e limpo a água da chuva que ensopa o livro. Ele insiste que me quer dar o dinheiro. Eu insisto que não quero o dinheiro. A certo ponto, as lágrimas escorrem-lhe pelos olhos. Ele diz que vai rezar por mim. Afasta-se a chorar. Quando passa a porta da rua chora aos berros. Um paneleiro que viu a cena diz que a culpa é minha, que é o meu cachecol e os meus olhinhos. O segurança entra todo contente porque a Argélia passou às meias-finais da taça africana.