19.8.11

Digidiários
(página perdida)

Londres, Bookshop, 22:18.
Um tipo gigante, completamente bêbado e encharcado, e com uma bíblia gasta debaixo do braço entra na loja. Pousa a bíblia em cima do balcão e tenta falar comigo. Primeiro não percebo (o tipo é estrangeiro, mas o sotaque alcoólico ultrapassa qualquer indicio que eu possa identificar de outra nacionalidade), depois sim. Ele quer que eu lhe arranje a Bíblia. Digo-lhe que não sei fazer isso. Ele olha-me sério, rasga uma página do livro e diz que eu vou ter de arranjar aquilo. Eu tiro os óculos para a hipótese de dar porrada. O gajo diz que tem dinheiro e põe uma libra e tal em cima da mesa. Eu digo-lhe que não quero o dinheiro e que não sei como arranjar a Bíblia. Ele pede para eu a limpar, eu pego num bocado de papel higiénico e limpo a água da chuva que ensopa o livro. Ele insiste que me quer dar o dinheiro. Eu insisto que não quero o dinheiro. A certo ponto, as lágrimas escorrem-lhe pelos olhos. Ele diz que vai rezar por mim. Afasta-se a chorar. Quando passa a porta da rua chora aos berros. Um paneleiro que viu a cena diz que a culpa é minha, que é o meu cachecol e os meus olhinhos. O segurança entra todo contente porque a Argélia passou às meias-finais da taça africana.

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