23.11.09

Quem é que te disse que agora podes sonhar comigo? Quando me fui embora não deixei nem um bilhete com uma palavra amarga. Quando finalmente me fui embora trouxe comigo os meus gestos e o meu riso, as tua memórias de mim. Nada. Que ficasse nada dessa pessoa que sem autorização fez da tua a sua cama. Como é que podes agora, no conforto quente do teu sono, no teu golpe mais baixo, fazer de mim teu?

20.11.09

" ...deixa-me tentar explicar-te... se um vulcão gigantesco estivesse prestes a explodir, e todas as pessoas fossem morrer, eu queria estar a abraçar-te, quando a lava me cobrisse..."

19.11.09

Não. Prefiro ir a pé. Cigarro na boca, cerveja na mão. Canto Chico Buarque pelas ruas de Londres. Ando sozinho e sorrio. Canto bem alto, como bem me apetece e sorrio. Que ansiedade? Que preocupação? Que ego mais chato. Fui abençoado. Caminho com o meu corpo e sorrio com os meus lábios. E amo. Não me preocupo, é simples, é como tem de ser, entrego-me. nem sequer me entrego, acontece, não é que pense que me vou entregar ou escolha. É só porque sim, porque é bom e porque eu gosto tanto. lembro-me que passo os meus dias a duvidar se algum dia vou fazer aquilo que é meu para fazer e sorrio. Canto mais um pouco, só a parte da letra de que me lembro, repito-a, a plenos pulmões, não copmo se houvesse uma plateia, só porque é bom. depois chegoa a casa e escrevo, só porque sim, e sorrio, porque não me interessa se é genial, profundo ou original, é só porque sim. Comove-me. Faz-me rir. Faz os meus sentidos reagir. Descobre a minha alma. Chorar e rir , ao mesmo tempo. Tanto amor, tanta tristeza, tanta separação e tanto amor. Que é que eu posso querer mais? Sinto-me pronto para morrer. Não como nas noites de ansiedade em que quero um bálsamo para os meus medos e sofrimentos. Estou pronto para morrer porque estou completo, pelo menos sinto-me assim, bem, lágrimas e riso, ao mesmo tempo. Amo coisas que desaparecem. Todos os fantasmas chamam o meu carinho, a todos os pesadelos eu abraço.

11.11.09

Acordo desconfortável e desidratado. Dói-me a cabeça, abrir os olhos é um sofrimento atroz. Levanto-me e vou beber água. Não queria acordar, mas teve de ser. Quando estou nú na cozinha a beber água como se fosse a única coisa que me pode salvar da morte eminente, reparo numa preta, num prédio em frente, a olhar para mim. Caguei. Coço os tomates, depois, com a mesma mão, mexo no cabelo. Volto a encher o copo de água uma e outra vez. Pelo canto do olho ainda vejo a preta, do outro lado da rua, a olhar descaradamente para a minha carcaça nua. Visto umas calças que estavam caídas no chão do quarto, dois casacos (um em cima do outro) e saio à rua.
Merda, devia ter trazido os meus óculos de sol. Tento não andar como um corcunda, mas os efeitos da ressaca dão luta, o meu corpo não está preparado para se mexer. Sinto que em mim há várias forças independentes em confronto: Um grande medo de tudo o que vem aí, uma segurança total que só um louco pode ter, uma cascata de carinho. Os estados alterados aumentam a separação entre estes contrastes, e por vezes comporto-me, não como a soma destas partes, mas como uma unica parte de cada vez. Durante a ressaca, estudo o meu monstro másculo insensivel, a minha bola enérgetica gigantesca composta únicamente por amor, o animal assustadiço e repelente.
O medo seria o meu ambiente natural, o meu primeiro instinto, mas de tanto conviver com ele, há um segundo instinto que vem logo a seguir, só milésimos depois, e que se torna tão natural como o primeiro. Este segundo instinto vem desfazer o medo, e às vezes assusta-me por me deixar tão calmo.
Vou à loja dos indianos e compro tabaco de contrabando. Assim que saio da loja enrolo um cigarro e acendo-o. Haaaaa... Fumo como se inspirasse ar puro da montanha... Agora preciso de qualquer coisa para comer. Sigo pela rua.
Pergunto-me o que verão as pessoas em mim quando se cruzam comigo: cigarro na boca, olhos amachucados, casaco comprido amarrotado, cabelo acabadinho de sair da cama. Pergunto-me e não me preocupo.
Acabo de fumar o meu cigarro à porta do centro comercial. Sei que ali vou certamente encontrar algo pré-feito para o meu almoço, qualquer coisa que me alimente e não me chateie. Está um tipo a apanhar lixo do chão e a cantar no parque de estacionamento. Aproximo-me dele para o ouvir melhor, encosto-me à parede e fico ali a fumegar. O céu cinzento, o chão sujo, as pessoas indiferentes, e aquela cantiga ali. "Nice song, man" "Yah" O tipo sorri-me e continua a cantar enquanto vai apanhando as coisas do chão. Sinto-me confortável por estar atrás dos meus olhos.
Vida, essa pequena coisinha caótica e bonita.

5.11.09

E o inverno nasce dentro de mim como um galáxia de tristeza e amor. Os meus olhos amam tudo, choram, secam. Voltam a amar tudo, choram, secam. Até quando. Só até quando.
Vejo tudo a morrer, a definhar, a desfazer-se no nada. E o amor nasce como metal a ferver dentro do meu peito. Desfaz-me. Os meus passos perdem-se.