21.5.09

06.38 da manhã - Marginal
Música, movimento e sensação. Sou tão feliz a conduzir este carro a ver o sol nascer pelo retrovisor e a ouvir o som aleatório do auto-rádio como serei em qualquer auge da minha vida. O Alter Ego está bêbado, desconfia até que lhe puseram qualquer coisa na bebida, mas não está preocupado. Está a ver o dia a nascer, as estradas a correr e a música em altos berros inunda-lhe o corpo. Tem as duas janelas totalmente abertas e segue pela auto-estrada a 180 km/h. Em certos momentos a música sabe-lhe tão bem que ele não resiste a deixar o corpo dançar.
Eu nunca tiro os óculos de sol mas as pessoas vêm-me transparente. Eu estou naquele sítio, áquela hora, há um tumulto fora do meu corpo, as pessoas correm, riem-se, gritam, mas aqui dentro tudo acontece com uma calma de buraco negro. Eu cruzo o meu olhar com o de um assassino violador, observo-o: Forte, másculo, triste, fraco e com o orgulho ferido. É igual a mim, é igual a todos os homens, e nalgum instante apaixonou-se pela maneira como uma rapariga se mexia e falava. Perdoo-o tanto quanto posso perdoar alguém: olhando-o nos olhos. Sigo.
É sempre mais facil conviver com os outros se na tua cabeça lhes limitares as possibilidades: Este só percebe de x, aquele só quer é festa, o outro está-se a cagar, aquele ali tem a mania que é poeta. Pegas nas pessoas e arruma-las em prateleiras deixando sempre um espaço livre para a tua. Fechas pessoas vivas em mini-mitos. E antes que te apercebas não estás a ouvir ninguém, não estás a perceber ninguém, só estás atento para aqueles instantes em que as pessoas se comportam como devem na prateleira que lhes deste.
Um dia eu pensei que devia entregar o meu corpo e a minha alma à pura experiência do mundo. Mas ainda não era a altura, havia demasiados pensamentos, e esses pensamentos estavam desfasados da velocidade real dos acontecimentos. eu tinha medo e debatia-me.
Um dia acordei e estava calmo.

Sem comentários: