28.5.09

Adoro o ruído das cidades quentes, os putos a jogar à bola, um bebé a chorar, uma mulher de voz esganiçada que grita, as garaglhadas abertas de dois homens, o chiar de uma bicicleta velha que passa, as moscas a rodopiar por cima dos caixotes do lixo cheios.
Respira, volta ao inicio. E que não faça sentido.
Um título:
SONS DA MINHA JANELA DE VERÃO - Um documentário Alter Ego
A minha janela dá para uma praceta, uma praceta com uns quantos pinheiros e rodeada de prédios. Da minha janela ouve-se o mar. As ondas a bater na praia uma atrás da outra e a molhar os pés na areia, um casal que passeia um bebé. Mais atrás três amigos sentados num banco, fumam e riem. Passa um comboio. Leva centenas de pessoas lá dentro. Um tipo vestido de fato tira os olhos da janela e verifica as horas no relógio de pulso. Outro, ainda com o sal da praia a roçar na pele e na camisa, deixa os olhos pesados seguir a linha morena das pernas de uma rapariga. Uma brisa quente abana as folhas das árvores perto da estação, A mulher do café acaba de varrer a esplanada, entra devagar e chocalha os pratos a lavar a loiça. Na Marginal os carros passam rápido, um apita. Ao longe, uma ambulância serpenteia entre o trânsito. Há obras, buldozers, numa mercearia uma velhota queixa-se do preço das coisas. Dois putos picam-se a descerde bicicleta uma avenida. Atrás de um portão um cão não gosta do que cheira e ladra. Outro, noutra rua, ouve-o e começa também a ladrar.
Uma criança de quatros anos grita enquanto corre a gargalhar atras de um cão. Vêm mais miudos e correm todos atrás do cão. Outro miudo surge com uma bola, chuta, começa o jogo. A avó de um dos putos passa e grita-lhes para fazerem menos barulho. O miúdo mais alto chuta a bola que bate num portão. Passa um carro. Por cima do portão está a minha janela.