6.12.10

- A 2ª Despedida de Maria -

Nebolusidade, 100%. Tudo como sempre. Talvez uma vibração mais eléctrica quando os olhares se cruzam... mas pouco mais.
Lenta, mas implacávelmente, o grande nó apodera-se do meu peito. Metal fundido, lava, preenchem todo o meu interior. Um último beijinho, um abraço, e uma última troca de olhares. Ela afasta-se com os seus passinhos silenciosos, tão feia quanto a beleza pode ser. Sai de campo.
Enquanto calço as luvas surgem lágrimas. Naaa. Sim, lágrimas. Monto-me na mota. Não pega. Sorrio. Puxo-a até ao cimo da rua e tento pegá-la de empurrão. Tento a primeira, a segunda, a terceira e... Ah! Ruído!
Neste momento, só uma coisa podia ser feita. A estrada do Guincho. A fundo.
Mar revolto, chuva, vento. A rebentação contra as rochas cria monstros, deuses, gente.
Lágrimas de velocidade, ultrapassagens.
Cascais. Deixo a mota e compro uma cerveja. Sigo até à praia debaixo do toque indiferente da chuva. Fumo e bebo a minha cerveja até ao último pedaço de espuma.
Aparecem três miúdas de bicicleta (treze, catorze anos) e param ao meu lado. Riem-se e apontam para as vagas que reconstroem a praia. Uma aproxima-se e pede-me lume.
Meio envergonhada, luta com o vento para tentar manter acesa a pequena chama do isqueiro só até incendiar a ponta do cigarro.
As gaivotas, às dezenas, planam sobre nós. Ao fundo, a linha indefinida do horizonte.

Sem comentários: