28.9.09

UMA EMPREGADA DE BALCÃO

Ela lavava os pratos e imaginava-se com o vestido curto vermelho. Estava pronta para sair, maquilhada, penteada, perfumada. O vestido assentava nas linhas do seu corpo na perfeição. Ele surgiu por trás dela, afastou-lhe os cabelos da nuca e beijou-lhe o pescoço.
Ela lavava os pratos. A empregada de balcão tinha vinte e três anos, era morena, tinha olhos azuis, e uma fisionomia simétrica e impenetrável. Tinha nascido num país do Leste da Europa e emigrado há um ano para Portugal. Numa das mesas do café estava a dona, uma mulher de 55 anos, gorda e desconfiada, que fumava cigarros um atrás do outro enquanto olhava para a TV com um olho, e contava notas com o outro. Num canto do café, perto da porta da casa de banho, estava um casal: marido e mulher. Estavam ali há meia hora. Chegaram calados, sentaram-se. Ele pediu dois cafés e acendeu um cigarro. Vieram os cafés, ele agradeceu à empregada e olhou-a de alto a baixo enquanto se afastava. Já ia longe o tempo em que a sua mulher tinha um corpo assim, jovem e firme. Olhou a mulher, tinha os olhos encovados e umas olheiras enrugadas, não levantava os olhos da chávena, o cabelo oleoso e fino era raro. Lembrou-se de como era no inicio, desafiadora e orgulhosa, e sentiu um carinho imenso por ela. Perguntou-lhe: - O café está bom? Ela encolheu os ombros. Entrou um rapaz no café. Era novo, teria uns vinte e cinco anos, e afastava o frio que estava lá fora esfregando as mãos uma na outra. Ele dirigiu-se ao balcão e esperou que a empregada reparasse nele. Entretanto observava-a, as unhas pintadas de vermelho, o fio de ouro ao pescoço, os ténis de imitação de marca, as ancas que adivinhava musculadas e ágeis, o peito firme e robusto, o pescoço liso e branco. Era domingo, já estava a anoitecer. Ele ainda estava de ressaca da bebedeira da noite anterior. A visão daquele corpo fez com o seu sangue se movesse, sentiu o sexo a mexer-se lentamente como que a prepara-se para uma erecção. Ela virou-se para ele, e ele apresentou-lhe um sorriso simpático e quente. Ela olhou-o de frente, indiferente, e não sorriu. Ele pediu tabaco, pagou, e dirigiu-se para a porta do café. Antes de abrir a porta procurou a empregada com o olhar, na esperança de um encontro que lhe desse a confiança de ter deixado a semente da sedução na empregada de olhos azuis. Ela estava de costas, a tirar cafés.

1 comentário:

She disse...

Gosto do teu escrever descritivo porque pinta bem a imagem do texto. Mas, o que gostei mesmo, mesmo!, neste, foi do fim. Golpe de mestre.